A produção de hortas através do sistema agroflorestal (SAF) está sendo impulsionada no Noroeste Fluminense para fortalecer a cadeia produtiva de alimentos orgânicos na região. Por conta disso, a Associação Central dos Produtores de Leite de Pádua (ACPROL)assinou um convênio com a Fundação Banco do Brasil para a implantação de trinta módulos de produção no sistema integração horta/floresta. O repasse, no valor de R$ 200 mil, será utilizado na aquisição de máquinas e equipamentos, como cinco trituradores de galhos, troncos e resíduos; motosserras para poda e 30 sistemas de irrigação por gotejamento com bomba propulsora.
O projeto, elaborado com apoio técnico do Sebrae/RJ e aprovado no edital da Fundação Banco do Brasil, prevê a cooperação entre as três grandes associações de produtores rurais do Noroeste – ACPROL, APROENF e APROCEN – que irão compartilhar os equipamentos de uso coletivo (trituradores e motosserras para poda). “Os equipamentos de irrigação são individuais, por isso vamos implantar o SAF em 30 propriedades. Mas o número de agricultores familiares beneficiados é muito maior, por conta do uso dos equipamentos coletivos”, esclarece o presidente da ACPROL, Luiz Fernandes Lopes.
O coordenador regional do Sebrae no Noroeste Fluminense, Nelson Rocha Filho, esclarece que as máquinas serão utilizadas para triturar galhos, folhagens e matéria orgânica que servirão de cobertura do solo. Em decomposição, eles protegem a terra dos raios solares – ou da erosão, em caso de chuva – e fornecem nutrientes para o crescimento da lavoura.
Os benefícios do SAF foram difundidos no Noroeste pela Rede de Pesquisa, Inovação, Tecnologia e Serviços Sustentáveis – mais conhecida como Rede de Agroecologia – formada pela integração de órgão públicos, instituições de ensino e pesquisa e a iniciativa privada, como o MAPA, Programa Rio Rural, Emater-Rio, Pesagro-Rio, Embrapa, Sebrae/RJ, UFRJ, Cedro, associações de produtores e secretarias municipais de agricultura. Nos últimos três anos, a Rede capacitou os agricultores familiares interessados em substituir a produção convencional – que usa agrotóxicos e fertilizantes químicos – pelo cultivo orgânico, que utiliza processos naturais de nutrição vegetal.
Já existem sete sistemas agroflorestais na região, todos implantados através de mutirões com a participação de agricultores e técnicos. Márcio José da Fonseca, de Varre-Sai, foi o primeiro a implantar o SAF em sua propriedade, que, até então, só tinha pasto para gado leiteiro e uma pequena área com horta convencional. “Foi a melhor coisa que eu fiz. Esse sistema é muito bom, pra gente que planta e para as pessoas que vão consumir. Eu tenho produção o tempo todo, porque as culturas são diferentes. Enquanto colho um, o outro está crescendo”, afirma o produtor.
Márcio aderiu ao SAF em dezembro de 2015 e começou com uma área pequena. Foi expandindo aos poucos e até o final do ano terá uma área equivalente a um campo de futebol, com banana, aipim, cenoura, beterraba, alface, couve, mamão, milho, entre outras culturas, intercaladas com árvores de acácia. Agora ele inicia o plantio de frutíferas – laranja, mexerica e abacate. Ele vende a produção em feiras, entrega para a merenda escolar e fornece cestas de produtos orgânicos para os consumidores.
O engenheiro agrônomo Eiser Felippe, consultor do Programa Rio Rural, esclarece que com a adoção do SAF, a economia de água na produção agrícola chega a 80%, por causa da cobertura do solo, o que permite a produção durante a seca, que todo ano castiga o Noroeste. “O SAF é ideal para áreas muito degradadas, porque ele promove a recuperação do solo junto com a produção de alimentos. O sistema concentra todos os recursos – solo, água, energia – e isso também facilita o trabalho do produtor”, afirma.