Bióloga contesta versão da Secretaria de Meio Ambiente e afirma que armadilhas aprendidas são parte de projeto científico

Diante da informação – inclusive publicada pela Rádio Natividade – de que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Natividade havia aprendido diversas armadilhas durante esta semana em uma área de mata próximo ao aterro sanitário de Natividade – com apresentação do material ao plantão da 140ª Delegacia Legal – a bióloga Maria Inês Tederiche veio a público e se manifestou sobre o caso.

De acordo com ela, que já desempenhou a função de secretária da pasta na gestão anterior, o material faz parte de um projeto científico, cujo objetivo é monitorar o sagui da serra escuro, espécie que faz parte daquelas que correm perigo de extinção. A profissional, ainda protocolou pedido junto à Prefeitura de Natividade, solicitando a devolução das gaiolas, que pertenceriam à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), mas que seguiriam retidas. No requerimento abaixo, Maria Inês, além de solicitar a devolução das gaiolas, conta um pouco do trabalho de preservação que é desenvolvido no município.

REQUERIMENTO:

Sr. Prefeito Francisco José Martins

Eu, Maria Inês Tederiche Micichelli, Bióloga, CRBio ²71171, Presidente da ONG AMAIS, venho solicitar a entrega de 12 (doze) armadilhas de arame galvanizado, pertencentes à Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ, de posse do pesquisador especialista em Callithrix aurita (sagui da serra escuro), o Médico Veterinário, Professor, Doutor, e Pós Doutorando, Daniel Gomes Pereira.

Informo que estas armadilhas foram colocadas no local onde hoje funciona o lixão de Natividade, com autorização e acompanhamento do Professor Daniel, onde grupos voluntários da AMAIS estavam monitorando a captura destes animais (que inicialmente contavam 07 (sete) animais e que na última contagem só foram visualizados 03(três). Estivemos desde segunda-feira, dia 27 de julho, em revezamento com os membros da ONG e acompanhamento do Professor até na quinta-feira, dia 30 de julho de 2015. quando o Professor retornou ao seu domicílio em Niteroi. Na sexta-feira estivemos no local pela manhã e pela tarde, onde tudo estava dentro dos critérios exigidos. No sábado não pudemos ir ao local pela manhã, mas na parte da tarde, por volta de 14 horas, meu filho, Thobias José Miccichelli Gonçalves foi ao local para trocar as frutas e para nossa surpresa as armadilhas haviam sido retiradas e estavam de posse do Secretário de Meio Ambiente. Meu filho se dirigiu a residência do Secretário e tentou argumentar com ele, mas foi questionado sobre quem seríamos nós para efetuar o mesmo trabalho.

Esclareço que este trabalho vem sendo desenvolvido por mim, desde 2012 quando identificamos o primeiro espécime desta categoria de animal, atualmente classificado como “em perigo” pelo livro vermelho da fauna do ICMBio, mesma categoria do mico leão dourado. Nosso trabalho, com o acompanhamento do Professor Daniel, seria capturar estes animais que ficariam por alguns dias num local já predeterminado e avaliado pelo professor, que retornaria ao Município em agosto e faria coleta de sangue e a soltura destes animais em área protegida (afirmo que o professor Daniel tem autorização do SISBIO, do INEA e da UERJ).

Os membros da AMAIS fizeram um Curso de Introdução à Primatologia, com foco no Callithrix aurita e promovido por uma empresa da qual sou sócia, a Miccichelli e Thomé Consultores Associados-LTDA, CNPJ18.183.001/0001-84 em maio de 2015, cujo objetivo era nos capacitar em captura, manejo de gaiolas e princípios básicos da primatologia desta espécie.

Infelizmente o trabalho de mais de uma semana e de um longo período de acompanhamento destes animais no local foi interrompido. Não sabemos agora se retornarmos conseguiremos capturar os animais. Lamento também a desconfiança desnecessária em um trabalho que já vinha sendo feito de longa data e com reconhecimento inclusive do INEA (enviamos 05 animais desta espécie ao Centro de Primatologia de Guapimirim, do INEA, com total apoio do Professor Alcides Pissinati e em junho enviamos um único indivíduo capturado de Callithrix flaviceps (sagui da serra claro, nunca antes localizado nesta região e tão ameaçado de extinção quanto o sagui da serra escuro).

Creio que deixei minha marca no Município, uma vez que enquanto estive na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, trabalhei com diversos projetos e consegui colocar o Município na Vice-Liderança Regional do ICMS ECOLÓGICO, à frente de Municípios como Itaperuna, Santo Antônio de Pádua, São Fidélis, Porciúncula e os demais, excetuando-se Miracema.

Creio que tentei demonstrar uma atitude democrática e cidadã, quando o convidei, por meio de ofício, à uma prestação de contas com o Conselho Municipal de Meio Ambiente, onde estiveram presentes o Vice-Prefeito eleito, seu atual secretário de Meio Ambiente, um membro de seu corpo jurídico e ainda um vereador do seu grupo político. Nunca me escondi de esclarecer e conversar.

Diante de tudo isso, a atitude pouco democrática de seu Secretário me magoou profundamente, por uma falta de respeito pela cidadã que sempre fui e pela pessoa pública que sou

Estou encaminhando em anexo o Certificado de Participação do meu filho no Curso de Primatologia (que foi público e que inclusive o atual Vice Prefeito foi convidado a participar) e a autorização do SISBIO do professor e Doutor Daniel Gomes Pereira. Gostaria de dizer ainda que todas as vezes que o Professor esteve no Município, desde 2013 e da última vez com sua esposa e 04 (quatro) filhos, foi às suas custas, sem gasto nenhum para o Município e ele, ao conhecer esta situação se mostrou profundamente entristecido, dizendo inclusive que caso a apresentação do seu SISBIO não sirva para a devolução das armadilhas ele virá esta mesma semana ao Município.

Enfim, senhor Prefeito, uma pequena situação pode colocar em risco todo um trabalho de uma ONG que tem 95% de seu corpo composto com jovens Universitários (de Veterinária, Biologia, Administração, Engenharia) e a colaboração de um pesquisador que foi classificado como a maior autoridade atual em Callithix aurita do Brasil.

RELEMBRE O CASO:

Agentes de fiscalização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Natividade, apreenderam diversas armadilhas, usadas para a caça de pequenos macacos (micos), encontradas em uma região de mata, nas proximidades do aterro sanitário da cidade, na região do bairro Liberdade.

Os servidores teriam chegado ao local após terem recebido uma denúncia anônima e confirmaram os fatos. As dez armadilhas fabricadas em aço e armadas para capturas os animais, foram recolhidas e apresentadas ao plantão da 140ª Delegacia Legal, onde passaram por perícia e posteriormente deverão ser destruídas. Os responsáveis não foram identificados.

Gaiolas foram apresentadas na 140ª Delegacia e ficaram apreendidas
Gaiolas foram apresentadas na 140ª Delegacia e ficaram apreendidas