Localizado na divisa com os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, o município fluminense de Porciúncula, conhecido pela prática de esportes radicais como asa delta e parapente, “voa alto” quando o assunto é agricultura. Na microbacia Bonsucesso, a produção de café aumentou quase quatro vezes depois que produtores foram beneficiados com subprojetos grupais do Programa Rio Rural, da secretaria estadual de Agricultura.
“Tínhamos vontade de crescer, mas vivíamos fechando no vermelho”, relembra o produtor Luiz Carlos Teixeira, que herdou a atividade profissional dos pais e avós. Ele trabalha com um irmão e três filhos, todos com lavouras individuais e vizinhas. Com um projeto grupal do Rio Rural, compraram um secador de café e construíram um galpão para armazenar mais de 1.000 sacas por safra. Há 8 anos, essa quantidade não passava de 270, o que equivale a um crescimento de quase 370%.
Segundo especialistas, um dos maiores desafios dos cafeicultores é manter a umidade adequada dos grãos. Quando há excesso de água, isso deprecia o preço na hora da venda. Por isso, o café precisa passar pela secagem depois de colhido. Ao ar livre, o processo demora um mês. Na máquina de secar café são, no máximo, 48 horas.
“Se os grãos secarem naturalmente, pode chover, sendo necessário cobrir com lona. Perdemos perder até 200 reais por saca em função da umidade”, explica o agricultor Saulo Teixeira, acrescentando que também há custos com mão de obra durante a secagem ao ar livre.
Na mesma microbacia, outra família aumentou a produtividade após os incentivos do subprojeto grupal. Além de construírem um galpão, os cinco produtores adquiriram um secador e um trator de pequeno porte, que ajuda no transporte de insumos e do próprio café. “Nós pagávamos frete para levar o café da lavoura ao galpão. O microtrator barateia o custo de produção”, destaca o agricultor Luiz Gonzaga Fabri.
Mais e melhor
O técnico executor do Rio Rural na microbacia Bonsucesso, Ademir das Virgens, explica que o tratamento dos grãos no pós-colheita interfere na qualidade do café. “Há alguns anos, ninguém ouvia falar em qualidade. Agora, os produtores sabem do diferencial no mercado e dos benefícios trazidos pelo despolpador, secador e estufa. O Rio Rural ajudou nisso, pois o cuidado começa na lavoura e o ciclo se fecha fora dela”, defende o técnico.
O Programa da Secretaria Estadual de Agricultura já aplicou mais de R$ 750 mil em 30 projetos grupais em Porciúncula, que recebem acompanhamento do escritóirio local da Emater-Rio no município. A maioria deles pertence à cadeia produtiva do café, mas o incentivo pode ser aplicado de outras formas. Vinte e cinco beneficiários da microbacia Ouro usaram parte dos recursos individuais para reestruturar um centro comunitário. “Temos mais conforto agora para receber os moradores, fazer reuniões do Cogem e oferecer um espaço adequado para capacitações”, argumenta o produtor rural Sebastião Garate.
Segundo o secretário estadual de Agricultura, os subprojeto grupais são importantes porque estimulam o trabalho coletivo. “A união da comunidade viabiliza projetos maiores, voltados para a cadeia de produção e para a comercialização”, enfatiza Christino Áureo.
Programas de coinvestimento também têm agregado valor à produção cafeeira regional. O Bule Cheio, iniciativa do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) do Rio de Janeiro, reúne parceiros como Sebrae-RJ, Ministério da Agricultura e Sindicato Rural de Porciúncula, disponibilizando técnicos agrícolas que ajudam na transferência de tecnologia no campo, como análise de solo e irrigação.